Entra no carro outra vez, revive os velhos tempos. O banco está anormalmente em baixo, tem de ajeita-lo, tem pena que não consiga fazer o mesmo com a vida…
Roda a chave de pé na embraiagem sente o motor do carro.. a viagem começou ali… há tanto tempo que não pega no carro… parece que já nem sabe como conduzir outra vez… uma voz ao lado diz, arranca. E como da 1ª vez arranca com cuidado e desconfiança. Tem uma estrada à frente e tem de a percorrer toda, até ao fim, não pode deixar o carro ir a baixo, não pode deixar uma vida ir a baixo. Com algum receio, mas sem medos avança, agora a paisagem a seu lado anda mais rápida, cada vez mais rápida, cada vez com mais confiança… abre a janela para puder sentir aquele vento que sopra e a refresca em dias de verão. Tem pena de não estar ali de verdade, mas continua o caminho, entre curvas e contra curvas perde-se numa imensidão da auto-estrada onde uns avançam mais depressa, alguns em excesso de velocidade .. e tem consciência disso, mas não os para.. até um dia... até um dia pararem de vez. Parecem não ter medo... gostava de ser assim, simplesmente acelerar. Afinal não era nada má condutora, qual era o mal? Só vê vantagens, atingia o seu destino muito mais rápido, e podia ver tudo… e sentir tudo… só precisava de chegar ao destino… mas de repente lembra-se, que assim deixaria passar ao lado toda aquela paisagem de vales e montes de quem percorre uma estrada deserta sem indicações ou caminhos fielmente marcados. Desfruta de um pequeno sol matinal que apesar de atrapalhar um pouco a vista,sabe tão bem que acaba não se importando. Relaxa e tenta sentir, sentir como se fosse ela o carro e pode-se controlar cada movimento acelerar sem problemas, sentir o trabalhar do motor como o seu próprio coração, alimentado por um combustível, caro e poluente por vezes. Mas tem uma sensação óptima.. uma sensação de uma leve condução. Por momentos deixa de sentir a terra batida nos pneus e parece pilotar um avião, que passa por entre as nuvens e tenta chegar mais perto do sol, a vista é fantástica… mas não consegue deixar de pensar no destino que o levou a começar a viagem, e aterra de novo aquela auto-estrada de terra… e segue um caminho de pensamentos com apenas uma direcção, mas com 6 velocidades completamente diferentes. Durante a viagem tem tempo para pensar, em tudo o que o levou a chegar ate ali, afinal não era ela quem guiava.. algo a faz guiar... E percorrer 500km sem paragens... e percorrer quantos mais fossem precisos.
De repente, vê o destino.. mas o carro vai a baixo antes mesmo de completar o ultimo metro.. Abre os olhos.. e o carro está parado, a chave nunca rodou, o carro nunca saiu do sitio, afinal… foi tudo um sonho, está de novo no ponto de partida… Como gostaria que tudo tivesse sido real, como gostaria de finalmente chegar aquele local, tão especial. Sai do carro e diz… Talvez para a próxima.. já faltou mais… um dia, não muito tarde, vai chegar ao seu destino. Ainda há algo a guia-la e ela espera que continue sempre a fase-lo até chegar ...à aquele sitio onde pertence.
Já faltou mais.
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